O vereador Conrado apresentou nesta segunda-feira (15) documento à Secretaria de Saúde de Santos Dumont, solicitando que o governo municipal não utilize os métodos de tratamento precoce à COVID-19, pelas razões apresentadas a seguir:
Os medicamentos do tratamento precoce são:
- Azitromicina: medicamento utilizado no combate a várias infecções bacterianas;
- Cloroquina e hidroxicloroquina: utilizado no tratamento de malária e outras doenças;
- Ivermectina e Nitazoxanida: medicamentos antiparasitários;
- Tamiflu: combate à gripe por Influenzavirus A e Influenzavirus B.
São diversas as evidências de que não faz sentido ministrar estes medicamentos no tratamento da Covid-19. Tais medicamentos não são recomendados pelos principais órgãos de saúde, incluindo a Organização Mundial de Saúde. Os diretores da Anvisa afirmam que a vacina é necessária, pois não existe tratamento precoce contra a COVID-19[1], uma vez que os medicamentos que vêm sendo utilizados não possuem nenhuma eficácia comprovada cientificamente.
A Merck KGaA – empresa alemã da indústria química e farmacêutica fundada em 1668 – que é responsável pela produção da Invermectina, divulgou comunicado afirmando que este medicamento não deve ser ministrado em casos de Covid-19, pois não tem eficácia contra a doença. Pelo contrário, os medicamentos acima mencionados podem trazer efeitos colaterais graves para os usuários, e podem ocasionar inúmeros problemas, já que muitas pessoas têm recorrido à automedicação. Alguns dos medicamentos podem causar efeitos colaterais graves, como arritmia cardíaca, hepatites, sangramentos, e inflamação no fígado segundo especialistas[2].
A exemplo da não eficácia dos medicamentos contra o coronavírus, temos a cidade de Chapecó (SC), que reforçou o tratamento precoce um mês antes de ter colapso na saúde[3]. O prefeito da cidade se pronunciou sobre o colapso: “Estamos em estágio de colapso, não é mais quase, é colapso. Se você tiver um milhão de reais no bolso agora, e precisar internar a sua esposa numa UTI em Chapecó, não vai ter lugar”.
Em Manaus, análises da Fiocruz Amazônia e da Universidade Federal do Amazonas mostraram que entre as pessoas que tomaram Ivermectina ou outros medicamentos do tratamento preventivo, as taxas de contágio pela COVID-19 foram mais altas do que entre as pessoas que não tomaram nenhum medicamento[4]. A ingestão dos remédios não evitou a incidência da doença, pelo contrário, as mortes continuaram ocorrendo de forma alarmante.
Em contraponto, temos as cidades que se saíram bem no enfrentamento à pandemia, entre elas, Viçosa. Esta cidade, cujos índices de contaminação e mortes pela COVID-19 são baixos, adotou medidas firmes para evitar o contágio da população[5]. A população de Viçosa é quase o dobro da população sandumonense, e ainda assim a cidade registrou menos óbitos pela doença do que o nosso município.
As cidades de Volta Redonda e Sete Lagoas possuem um número de habitantes bem próximo, no entanto, a diferença no número de óbitos em decorrência do coronavírus é muito grande. Até a data em que esta matéria foi escrita, Sete Lagoas, com pouco mais de 240 mil habitantes, não adotou o tratamento precoce e registrou 203 óbitos devido à COVID, enquanto Volta Redonda, com pouco mais de 270 mil habitantes, adotou o tratamento e registrou mais que o dobro: 485 óbitos. Segundo parecer técnico da Comissão de Infectologia de Sete Lagoas: “Neste momento, não há comprovações científicas que respaldem o uso compulsório de tais medicações citadas no informe da Sociedade Brasileira de Infectologia, mas cabe ao médico tomar a decisão pelo uso ou não, e ao gestor, decidir se irá ou não disponibilizar tais medicações para a rede assistencial do município. Os profissionais que contribuíram na construção deste documento não recomendam a utilização de tais medicamentos no tratamento ou profilaxia em casos de Covid-19”.
A vacina é o único tratamento que temos hoje, com eficácia comprovada, que pode de fato nos ajudar a reduzir os números de contágio até que a doença seja erradicada. Enquanto toda a população sandumonense ainda não pôde ser vacinada, o que podemos fazer é seguir o exemplo das cidades e dos países ao redor do mundo que enfrentaram a pandemia de forma responsável e inteligente, e obtiveram bons resultados. Os cuidados básicos com a higiene e distanciamento social devem continuar, e serem adotados de forma mais rígida, para evitar que a doença se espalhe mais na cidade, e os medicamentos que podem ser prejudiciais devem ser evitados.
Conrado encerrou a solicitação pedindo que Governo Municipal analise todas as evidências científicas que apontam para a não eficácia destes medicamentos, e não utilize estes métodos na cidade, principalmente porque há pesquisas que apontam que há até 1,4 vezes mais chance de risco de morte com o uso da cloroquina combinada a antibióticos ou não nos pacientes[6].
Referências:
[1] Disponível em: <https://g1.globo.com/bemestar/coronavirus/noticia/2021/01/17/diretores-da-anvisa-dizem-que-vacina-e-necessaria-porque-nao-ha-tratamento-precoce-contra-a-covid.ghtml>
[2] Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/01/medicos-e-pacientes-relatam-efeitos-colaterais-graves-do-chamado-tratamento-precoce-contra-covid.shtml>
[3] Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/nacional/2021/02/18/interna_nacional,1238744
/chapeco-reforcou-tratamento-precoce-um-mes-antes-do-colapso.shtml>
[4] Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2021-02-26/estudo-sugere-que-pessoas-em-tratamento-precoce-tiveram-taxas-mais-altas-de-infeccao-por-covid-19-em-manaus.html>
[5] Disponível em: <https://www.vicosa.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/prefeitura-de-vicosa-divulga-o-356o-boletim-epidemiologico-de-vicosa/82984>
[6] Disponível em: <https://www.medicina.ufmg.br/entenda-os-resultados-do-maior-estudo-ja-feito-com-cloroquina-e-hidroxicloroquina/>