Tragédia anunciada: mais uma parte do acervo da Cinemateca Brasileira é consumida por incêndio

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Foto: Reprodução/ TV Globo. Site: Senado Federal.
Santos Dumont, 02 de agosto de 2021
Marcela Xavier

É a quinta vez que parte da Cinemateca Brasileira pega fogo. Incêndios destruíram parte do patrimônio da instituição em 1957, 1969, 1982, 2019 e 2021. Em 2020, o galpão da Cinemateca localizado na Vila Leopoldina também sofreu um alagamento, comprometendo outra parte do acervo.

Na noite da última quinta-feira (29), um incêndio atingiu um galpão da Cinemateca Brasileira, localizado na Vila Leopoldina, na zona leste de São Paulo (SP). O incêndio atingiu uma área de 400 m². Ninguém se feriu.

O galpão funcionava como um arquivo. Três salas foram atingidas. Aproximadamente quatro toneladas de documentos, incluindo filmes e material impresso foram consumidos pelo incêndio. Entre eles, estava parte do acervo do diretor, roteirista, ator e escritor brasileiro Glauber Rocha. Também havia materiais centenários que estavam sendo guardados para a montagem de um museu sobre o cinema brasileiro.

Criada por estudantes em 1956, a Cinemateca Brasileira é a instituição responsável pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira, possuindo o maior acervo da América do Sul, composto por 250 mil rolos de filmes, roteiros, cartazes, fotos e livros.

Em 2019, o Governo Federal decidiu não renovar contrato com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, que cuidava da Cinemateca. Desde agosto de 2020, a Secretaria Especial de Cultura assumiu a gestão da instituição, sob intensos protestos de funcionários.

É a quinta vez que parte da Cinemateca Brasileira pega fogo. Incêndios destruíram partes do patrimônio da instituição em 1957, 1969, 1982, 2019 e 2021. Em 2020, o galpão da Cinemateca localizado na Vila Leopoldina também sofreu um alagamento, comprometendo outra parte do acervo.

No último dia 20, durante uma audiência, o Ministério Público Federal em São Paulo alertou representantes da União sobre o risco de incêndio tanto na sede da Cinemateca, na Vila Mariana, quanto nos galpões da Vila Leopoldina.

Entenda a ação do MPF contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira

A audiência faz parte de uma ação civil pública contra a União por abandono da Cinemateca Brasileira, aberta em julho de 2020 pelo Ministério Público Federal em São Paulo (MPF).

Nessa ação pública aberta foi solicitada à Justiça Federal a renovação do contrato em caráter emergencial com a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, a permanência dos técnicos que trabalham na Cinemateca e a criação de um plano gestor da Cinemateca Brasileira para o ano de 2020.

Mesmo sem contrato e salários, parte da equipe continuou trabalhando voluntariamente, por entender a importância da preservação da Cinemateca para a história do Cinema Brasileiro. Há um ano, o Secretário Especial de Cultura, Mário Frias, exigiu que todos os voluntários encerrassem suas atividades na instituição e devolvessem as chaves, já que a União estaria assumindo a gestão da Cinemateca.

Em maio, a ação civil por abandono da Cinemateca foi suspensa pois a União se comprometeu a dar continuidade às ações de preservação patrimonial. Porém, só na manhã posterior ao incêndio (30), o Governo Bolsonaro divulgou edital para contratação de uma empresa para gerir a Cinemateca.

A Cinemateca não possui Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) nem em sua sede em Vila Mariana nem no galpão que pegou fogo em Vila Leopoldina. O documento é uma certificação de que o prédio possui equipamentos de segurança contra incêndio e situações de pânico. A pedido da Secretaria Especial de Cultura, o incêndio está sendo investigado pela Polícia Federal. Peritos do Instituto Nacional de Criminalística auxiliarão na investigação.

Vereador Conrado (PT) ressalta que “o Poder Judiciário errou em suspender o processo, ao confiar no Governo Federal, e este errou em impedir o trabalho dos voluntários, além de não repassar mais recursos para a manutenção da associação que cuidava do acervo. É necessário que a cultura seja tratada como um direito essencial à vida humana, precisando de recursos para que situações lamentáveis como essa não aconteçam mais”.