Adolescentes indígenas Kariri-Xocó buscam patrocínio para criação de time de futebol

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Newcastle Kariri-Xocó: futebol e resistência indígena às margens do baixo São Francisco

Santos Dumont, 05 de novembro de 2021
Marcela Xavier
*Obs.: A foto destaque da matéria foi retirada do perfil Centro de Cultura Sabuká Kariri-Xocó, no Facebook.

Membro fundador do time Newcastle Kariri-Xocó, do Estado de Alagoas, o adolescente indígena Kayã Tengre Nunes Tinga (16 anos) cursa o 2º ano do Ensino Médio em uma escola pública do Município de Porto Real do Colégio, unidade federativa do referido Estado, que possui aproximadamente 18.000 habitantes. Apaixonado por futebol, Kayã encontrou muitas dificuldades, sobretudo financeiras, para treinar nas escolas de futebol dos times locais.

O atacante, que cresceu jogando futebol com seus amigos na aldeia, enxerga no esporte uma forma de representatividade e resistência da juventude Kariri-Xocó.  “A proposta do nosso time é reunir adolescentes e jovens da etnia Kariri-Xocó, que vêm de famílias com poucos recursos e não conseguem arcar com os custos para treinar nos grandes times locais. Pretendemos disputar competições contra eles”, explicou.

Kayã, que tem como fonte de inspiração o atacante Neymar, jogador do PSG, conta que o futebol se tornou um esporte muito praticado por crianças de sua aldeia, “assim como as brincadeiras tradicionais Kariri-Xocó: queimado, boto, garrafão, pega-pega, cuzcuzinho e preso-solto”.

Filho do Pajé Pawanã Crody, Kayã aprendeu desde cedo a amar, valorizar e ter orgulho de suas origens Kariri-Xocó. Tal qual seu povo, o adolescente acredita que, mesmo participando ativamente da vida social do Município de Porto Real do Colégio, a vivência, cultura e o sentimento de pertencimento à aldeia precisam ser preservados.

Para Kayã, correr com a bola nos pés faz parte da identidade da juventude Kariri-Xocó, sendo este um momento de integração, autorreconhecimento e cuidado com a saúde física e mental. “O futebol é uma atividade física muito importante para nós. Até os idosos praticam”, ressaltou.

Kayã (primeiro à esquerda), Fernando, Ruan, José, Nandinho, Sawan, Dadis, Ruy, Kakal e Anderson, jogadores do time indígena Newcastle Kariri-Xocó, durante uma reunião de estudos da equipe. Créditos da foto: arquivo pessoal de Kayã.

Sem recursos, mas com uma proposta inclusiva bem definida, Kayã e seus amigos reuniram uma equipe motivada, formada por 15 jogadores, 2 diretores técnicos e 7 auxiliares. A equipe é formada por voluntários indígenas Kariri-Xocó, que trabalham duro para alimentar o sonho de viver de futebol desses atletas, perseverando apesar de todas as dificuldades econômicas e sociais enfrentadas pela aldeia.

Os treinamentos ocorrem nas quadras de areia e campinhos da aldeia. “Limpamos as quadras e campos, improvisamos traves de madeira, utilizamos as bolas que conseguimos e jogamos descalços, já que muitos de nós não têm condições para comprar chuteiras”, contou Kayã.

Busca por patrocinadores

Para transformar o Newcastle Kariri-Xocó em um time profissional inclusivo da aldeia, Kayã e toda a equipe buscam patrocinadores. Inicialmente, o time precisa dos seguintes materiais:

Quantidade Item
30 2 conjuntos de uniformes para cada jogador
20 Bolas
22 Coletes
2 Redes
20 Pratinhos para treino
9 Caixas térmicas de 50 litros
20 Cones para treino de agilidade com barreiras
10 Cones de 50 cm
30 Garrafas de 1 litro
2 Pares de Luvas
4 Escadas de agilidade
10 Cordas
4 Cintos de tração
2 Sacos para guardar bolas

 

Caso você possa ajudar os adolescentes indígenas do time Newcastle Kariri-Xocó, faça contato com Ruan, pelo WhatsApp (82) 98745-9589 ou com Geni Nary, pelas redes sociais da Aldeia Kariri-Xocó: Facebook e Instagram @sabukakaririxoco. É possível doar ou patrocinar o time utilizando Pix.

Conheça a Etnia Kariri-Xocó

Foto dos jogadores indígenas Ruan e Kayã, durante um ritual de pintura. Créditos da foto: arquivo pessoal de Ruan.

A denominação Kariri-Xocó surgiu da junção do povo Kariri de Porto Real do Colégio – AL com parte dos indígenas Xocó que viviam na ilha de São Pedro – SE, devido à proposta de extinção das aldeias indígenas durante o Império.

Localizada na zona rural do pequeno município alagoano Porto Real do Colégio, a aldeia Kariri-Xocó possui cerca de 1.447 indígenas, segundo o senso Funai realizado em 2000.

Organização econômica, social e política

As principais fontes de renda dos indígenas Kariri-Xocó são as atividades agropecuárias em fazendas próximas, além da produção e venda de artesanato em barro, coco, madeira e ossos.

A liderança está centrada nas figuras do Cacique e Pajé, cargos escolhidos durante o ritual religioso Ouricuri, mas também há um Conselho formado pelos anciãos da tribo.

Ouricuri

O Ouricuri é um ritual sagrado de comunhão com divindades e ancestrais, professado por vários grupos indígenas da Região Nordeste. Realizado em uma clareira no meio da mata fechada, este ritual é composto por cantos, danças e a ingestão de uma infusão feita da entrecasca da raiz da árvore Jurema.

Princípio organizador da identidade Kariri-Xocó, a cerimônia ritualística evoca sentido à terra, à liderança e à família. Durante o ritual, são escolhidos o Cacique e o Pajé da aldeia. Em Porto Real do Colégio, a cerimônia dura 15 dias e é realizada entre os meses de janeiro e fevereiro.

Toré

Os indígenas Kariri-Xocó também preservam a tradicional dança Toré, sendo esta dividida em 2 tipos: o Toré ritualizado, que faz parte do Ouricuri e o Toré de Roupa, dançado em qualquer festa da aldeia.

Preservação da linguagem

Devido à opressão dos colonizadores, os indígenas Kariri-Xocó aprenderam a língua portuguesa. Atualmente, seu idioma ancestral, pertencente ao grupo dialetal Dzubukuá, é ensinado nas escolas da aldeia, como forma de resistência e preservação da identidade Kariri-Xocó.

Apoie a Aldeia

Saiba mais sobre a Aldeia Kariri-Xocó pelo canal Youtube Sabuka Kariri-Xocó. Ajude a Aldeia Kariri- Xocó – Conheça e adquira peças artesanais fabricadas pelos indígenas Kariri-Xocó pelo Facebook ou Instagram @sabukakaririxoco. Nesse período de pandemia a sua compra dos produtos fortalece a comunidade indígena, proporcionado melhores condições de vida.

Confira este documentário sobre a música do povo Kariri-Xocó, produzido em Porto Real do Colégio – AL,  pelo grupo A Barca e Olhar Imaginário: