Santos Dumont, 28 de junho de 2021
Marcela Xavier
Hoje (28) é comemorado o Dia Internacional do Orgulho Gay, também conhecido como Dia Internacional do Orgulho LGBQIA+. A sigla engloba lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queers, intersexuais, assexuais e outras sexualidades e identidades de gênero. O mês de junho foi escolhido para dar visibilidade à população LGBTQIA+ e conscientizar sobre o combate à homofobia.
“A homofobia impacta a vida de pessoas LGBTQIA+ nos mais diversos âmbitos, sendo necessário criar e efetivar estratégias de conscientização governamentais e da sociedade civil, garantindo que o direito destas pessoas a uma vida digna seja garantido, afirmou o Vereador Conrado.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Center for Talent Innovation em 2019, 61% de funcionários LGBTQIA+ escondem sua sexualidade dos gestores e demais colaboradores por medo de perder seus postos de trabalho. Além disso, 33% das empresas brasileiras afirmaram não contratar LGBTQIA+ para cargos de chefia.
A pesquisa também revelou que 41% dos funcionários LGBTQIA+ já sofreram discriminação no ambiente de trabalho por sua orientação sexual ou identidade de gênero e que 90% dos travestis se prostituem por não conseguirem oportunidade de trabalho, ainda que possuam a qualificação necessário.
“É inaceitável e desumano o processo de exclusão que a população LGBTQIA+ enfrenta no mercado de trabalho. Não podemos normatizar que travestis precisem se prostituir para sobreviver, quando gostariam de estar exercendo as profissões para as quais se prepararam. Acredito que todos devem ter as mesmas oportunidades de acesso, independente de sua orientação sexual ou identidade de gênero”, asseverou o Vereador Conrado.
O DJ Samuel Grossi (28 anos) conta que já sofreu episódios de assédio moral no trabalho relacionado à sua orientação sexual. “Durante o atendimento telefônico a um cliente, uma supervisora gritou comigo, dizendo: ‘Anda logo com isso, viado! Se vira!’. Me senti muito mal com aquele tratamento”.
Uma pesquisa feita a partir de notificações do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com universidades federais e órgãos pertencentes ao SUS “apontou que um LGBT é agredido no Brasil a cada 1 hora”. É importante ressaltar que o Sinan pertence ao SUS e engloba casos que não foram denunciados.
A enfermeira Sâmiah Andrade (39 anos) contou que sofreu com a homofobia internalizada até os 22 anos e quando decidiu se revelar homossexual sofreu com o preconceito de sua família e da sociedade. “Em 2008, sofri um ataque homofóbico. Ao caminhar de mãos dadas com uma namorada pela Avenida Rio Branco, fomos alvo de insultos homofóbicos de um grupo de homens. Ao reagir àquela abordagem preconceituosa, sofri um linchamento. Com hematomas e escoriações por todo o corpo, fui levada a um hospital. Vendo o descaso da polícia com a situação, reagi de forma indignada e fui presa por desacato à autoridade. A caminho da delegacia, ouvi piadas homofóbicas e sofri violência física e uma tentativa de violência sexual por parte da polícia. Todos saíram impunes”, relatou.
Para Samuel, o preconceito é diário. “É comum recebermos olhares distorcidos. Após a eleição de Bolsonaro, ocorreu um episódio muito desagradável. Ao caminhar com um amigo, 2 homens passaram em uma moto e deferiram contra nós ofensas homofóbicas.
Segundo o relatório Observatório de Mortes Violentas de LGBTI+, 237 lésbicas, gays, travestis e transsexuais tiveram mortes violentas no Brasil em 2020. Destes, 94,5% foram homicídios e 5,5% suicídios. Já em 2019, 329 LGBTI+ perderam a vida por conta de sua orientação sexual ou identidade de gênero. “Toda a sociedade precisa ter acesso a esses dados. Por conta do preconceito, muitas pessoas morrem por serem gays. Não conseguem emprego e vivem na pobreza. Isso não pode ser tratado como natural”, asseverou.
Homofobia e religiosidade
Para o psicólogo Moisés Coppe, as pessoas são diferentes, assim como as expressões referentes ao que reconhecemos como amor. “Quem determina como se deve amar? Infelizmente, as igrejas e muitas organizações religiosas, mediante a visão fundamentalista baseada no escrito, considerado sagrado, interpretam suas convicções pessoais e comunitárias segundo a letra fria, sem considerar a cultura e individualidade do outro”, declarou Moisés.
Somada a esta questão, “está a singular informação de que as expressões que nos aproximam de outras pessoas são bem subjetivas ou caracterizadas por definições neurobiológicas. É ponto pacífico para a ciência que muitos seres humanos nascem com as suas constituições diferenciadas. Em outras palavras: meninos que nascem com cabeça de menina e vice-versa”, afirmou o psicólogo.
Há vários líderes religiosos que abusam do seu direito de entender a homossexualidade como pecado e divulgam fake news, como foi o caso da cantora Ana Paula Valadão. “A fé é um direito humano, mas ofender pessoas com informações falsas é violação dos direitos humanos”, relatou Conrado.
“No que se refere às composições reflexivas das igrejas que taxam a homossexualidade como aberração ou pecado, ocorre a mesma leitura desonesta e fundamentalista que desconsidera que o ‘amor’ é muito maior do que se pode pensar ou imaginar. Não se pode estabelecer moralismos e condenar quem quer que seja. O pior é endossar uma heterossexualidade doentia que estimula, por exemplo, o preconceito e, em última instância, o feminicídio”, asseverou o psicólogo Moisés.
Para Moisés, cabe às igrejas ser exemplo de amor e acolhimento. “Enquanto psicólogo, trabalho pela emancipação como ser no mundo, especialmente valorizando a autoestima e as formas de relações possíveis no mundo de sentido. As igrejas, sob este enfoque, devem se ater a respeitar e cuidar de todos segundo o mote maior evidenciado pelo Nazareno: Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo,” defendeu.